quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Eu aos 18...

Caótico o choro das crianças
Carnívoro espaço disputado
Nascidos, criados, consumidos
Meninos na beira do abismo
Meninas dançando entre lobos

E os poucos que sentam a ver pássaros
Que cantam sobre o asfalto
Que dançam sobre os carros

Loucos

Tempo é dinheiro
Carne é pecado
Morte é alimento
Cinza é a cor da moda
Canibais à ferro e fogo
Um viva aos estômagos autofágicos!

E os poucos
Que correm à luz da lua
Que choram à borboleta morta
Que amam à abertas portas

Loucos

Árvores à preço de mercado
Sonhos na tela da TV
Amigos? Um mouse pra você!
Filosofia, interrogação
Pra que?
Ta tudo pronto, olhe a sua volta!
Não gostas do que vê?
Então aqui está, criamos algo pra você!

É alcool
É pó
É êxtase
É mais

E os muitos
Pequenos e feios
E frágeis e cheios
de vida nos peitos
Encontram um meio
Suavizam o pranto
Suicidam-se aos poucos
De loucos, de loucos.

21 de janeiro de 2002

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

A vingança do Tele-Marketing

 
Tinha certo prazer em xingar educadamente trabalhadores de tele-marketing.

Então Deus disse:

Envie um vendedor. Ele deverá enrola-lá até o ponto da desistência. Deixá-la esperando até a exaustão, rebaterá seus argumentos como se não ouvisse sua voz. Ele deverá saber o momento exato para o abatimento mas, antes, quero que ela se erga para que o tombo fique maior.

Quando acabar com ela, envie o “Estou aqui para ajudar”, a “bêbada do incenso” e o “cara de batom”.

-Senhor, mas porque mandarás um “cara de batom”?

Para que ela não duvide da Minha Infinita Criatividade.

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Plopt

O que me falta é massa, para conseguir dobrar o espaço-tempo do jeitinho que me apetece.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Também quero ser privatizada!

Cansei de ser uma cidadã estatal. Estar aberta à conversação pública, ter como ideal o bem comum. Já tenho poucos espaços onde posso circular livremente, a polícia que deveria me proteger, não está mais preocupada comigo, ninguém paga meu cabeleireiro e nem minha manicure. Quero ter acesso a um público mais qualificado, que tenha dinheiro para investir em mim. Não quero mais dividir as contas da cerveja, do restaurante, do cinema.

Quero entrar na onda do momento. Na crista dela, porque, francamente, ser estatal é coisa de pobre. Quero conviver com aqueles que tem bens (os afortunados por Deus), que esbanjam beleza e cuidado com seus corpos. Chega desses amigos que só tem tempo para estudar-trabalhar-estudar... Quero que uma multinacional fature em cima de mim. Certamente, ganharei 1% da minha utilização, e 1% é muito em se tratando de um grande negócio!

Funcionarei melhor: meus neurônios integrarão o sistema de qualidade total. Minhas idéias já sairão de mim patenteadas. Aqueles que quiserem me acessar terão que pagar pedágio. Chega dessa coisa de "preocupação com direitos", é muito politizado, muito esquerdista, muito démodé. Quero ostentar. Sentir não me interessa mais. Amor não paga contas. Sexo? Só mediante pagamento. E não me venha com "isso é imoral". Se o lucro que eu gerar fodendo for redirecionado para o mantenimento de meu corpo, que mal existe? Serei uma mulher privatizada, não uma "puta" pública, não confunda as coisas!

Chega de cultura. Muita formação, muita informação, muita arte. Isso só me estressa e não traz retorno financeiro. Quando privatizada for, só assistirei e compartilharei coisas do mainstream. Literatura fútil, filmes de ação e comédias românticas 3D, música pop e todo o resto que estiver na moda. Aliás, eu lançarei moda, porque terei dinheiro para pagar a minha própria publicidade pessoal!

Não quero mais ser brasileira. Pais de pobretões. Quero ser estadunidense ou de outra grande potência. Européia... não, né? Velho mundo. Quero ser cotiporânea!!! Ostentar uma grande marca internacional tatuada nas minhas partes íntimas! 

Não está convencido dos benefícios? Calma... nasci aqui, fruto da genética e da terra verde-azul-amarela. Não esquecerei de todo as minhas origens! Só serei "simbolicamente brazileira", com "z" porque é mais chique. Estarei pronta para receber estrangeiros, darei tudo que quiserem. Podem me explorar, me usar, me depredar. Me esgotem a vontade! Pagando bem? Que mal tem? Não há nada que uma plastiquinha não resolva! São só vantagens!!!

Eu e o Maracanã. Brazileiros "natos". Quem dirá não? 


Texto inspirado na futura privatização do Maracanã que fiquei sabendo hoje, via jornal da Record. 

domingo, 21 de outubro de 2012

Retrato

Quanta surpresa tive 
ao retratar aquela menina!

Um olho tem dor, o outro tem sina...

Tem fúria marcada na testa, sobrancelhas um pouco pidonas.

A boca não tende ao sorriso...

Covinhas? Talvez de esperança.
Um queixo bastante briguento.

Cabelos rebeldes por natureza e um nariz de criança presa!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Porto Alegre: Universo Paralelo


 
Quem dera fosse assim,
na minha Porto-silêncio.

Mas está tudo errado
na minha Porto-tragédia.

O público virou privado
na minha Porto-vendida.

O povo foi cegado
na minha Porto-mentira.

Nossas meninas foram surradas
Na minha Porto-brigada.

Nossas urnas foram forradas
Na minha Porto-cegueira.

Agora me dói a garganta
Na minha Porto-ferida.

O povo virou o martelo
Na minha Porto-porrada.

(O prego está na cabeça de seu filho)
Na minha Porto-privada.

Me sinto órfã, abandonada.
Não sei se grito,
se choro,
ou se tomo uma Coca-Cola,
pra esquecer do sangue no chão
da minha Porto-perdida.


Fonte da imagem: picanaorelatada.com

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Hoje quero falar de Seios


Impossível não analisar, de vez em quando, padrões em redes sociais. Uma verdadeira janela para personalidades construídas em função do micro-círculo-social dos “amigos”, uma rara portinhola para a alma das pessoas. Irritante? Quase sempre. Interessante? Para quem resolve dar uma analisadinha depois do trabalho (alguns preferem whiskynho... sim, preciso repensar a minha vida). Mas indo direto ao ponto, hoje quero falar de seios.

Não conseguiria enumerar as várias funções dos seios. Seios para amamentar, seios para diferenciar, seios para sensualizar, seios para os maridos lamberem, seios para promover o país no carnaval, seios para ostentar - “os meus custaram 5 mil e os seus?” - ... Enfim... seios. Andei observando que todas estas formas de aproveitamento mamário, são consideradas LÍCITAS sob o olhar dos micro-círculos. Lícitas, não quer dizer que todos os “aproveitamentos” acima citados são vistos com bons olhos, muito menos que são admitidos como costumes. Porém, existe uma destas funções que desperta demasiada desconfiança em muitas “cabeças abertas” por aí: “SEIOS para PROTESTAR?” -NÃO!.

Os argumentos são igualmente inumeráveis: “mas o que isso tem a ver com a causa?”, “não existem outras formas para chamar a atenção?”, “se quisessem ser levadas à sério, deveriam protestar como qualquer um, com a boca, não com as tetas” etc... Já li tantas coisas... Aí me pergunto: por que para protestar incomoda tanto?

Tento entender. Seria uma sacralização em função da função? Seria algum trauma desenvolvido na infância, jamais superado? Seria agressivo demais, tipo uma “super-arma de combate ocular psicológico-moral”? (tenho que me cuidar com essa ideia, vai que os EUA entram numas e resolvem utilizar essa “tecnologia” em certas guerras por aí...) Seria demasiadamente estético ou sublime para ser exposto aos ideais de uma causa? Seriam secretamente patenteados por indústrias pornográficas e multinacionais de sutiãs? Seriam duas obras de satanás para promover a reforma agrária a partir de loteamentos previamente demarcados no subterrâneo?

Não quero me valer dos argumentos feministas. Não penso em resolver a questão. Nem almejo incitar o aproveitamento do corpo em protestos, até porque, se você estiver em um, gostando ou não, seu corpo estará também. Só tenho a dizer que: Seios por causas são tão passionalmente debatidos, tão fervorosamente defendidos ou acusados, que até os ditos apolíticos tiram suas bandeiras do armário.




Forte, não?

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Luz del Fuego

"Finalmente vencida" é o caralho.
Fonte: uma amiga incrível, Carmelina, gracias!

TPM uma reflexão


Todos os 24 dias de todos os meses ela tenta ser conciliadora. Aguenta, no melhor estilo ZEN da montanha, um infinito de bobagens. Não trata com desprezo ninguém. Sorri para as pessoas que precisam de sorrisos, tolera, calada, pequenas farpas e negligências. Busca acalmar quem está nervoso, busca excitar a mente de quem está deprimido.

Pensa na dualidade do mundo, sente a falta de sentimento no pensar. Olha quantas coisas poderiam ser evitadas, quantas poderiam ser feitas, como tudo poderia ser melhor. Frustrada, pois trabalho de formiga cansa e esse tipo de coisa importante não paga as contas, aduba, bem dentro, a ideia de que se desistisse e simplesmente ligasse o fo-da-se, só estaria sendo mais uma babaca entre milhões.

VINTE E QUATRO DIAS DE TODOS OS MESES É MULHER. Aguenta piadas machistas. Aguenta pensamentos machistas, aguenta sistemas machistas, aguenta religiões machistas, aguenta fêmeas valorosas-honradas-machistas.

Quatro dias de todos os meses desde que tornou-se apta a ser consumida como produto de prazer de um homem, com a devida honraria que toda a família de bem deve oferecer sua carnosa produção para a sociedade, ela desce da montanha. Desce correndo, vomitando pela abençoada e impura rachadura no meio de suas pernas, nada mais nada menos que sangue. Escuta do mundo, como esse fluído é asqueroso, usa fraldas para escondê-lo, deve resguardar sua podridão do olhar alheio.

Aceita.
Avisa.
Pede paz.
Não é ao menos levada a sério.
Explode.

Recebe então o seguinte diagnóstico: “Acho sinceramente que devias procurar tratamento, tua TPM está indo além da conta, vai acabar te prejudicando.”

E sobe a montanha.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

UMA BELA ORAÇÃO INFANTIL /ATÉ O DIABO FICOU COM VERGONHA

"A OFERTA DA VIÚVINHA" ALINE BARROS & CIA.

Indescritível a sensação que esta musiquinha me deu.
O desenhinho então........
Não chega a ser uma vontade de violência física.
É algo mais dentro, na humanidade da pessoa, sabe, uma coisa monstruosa?
Quando se percebe que o bizarro não tem limite.
Essa mulher. Não pode ser chamada de mulher. É uma aberração.
Não se pode nem classificar este crime... 
Extorção mediante condicionamento de menor?
Não consigo dizer mais nada. 
...
 

terça-feira, 17 de julho de 2012

quarta-feira, 9 de maio de 2012

“Quem são ou o que querem os jovens Millennials ou Geração Y?”


Nascida entre os anos 1980 e 2000, topei com um texto dando bandas pela internet e, automaticamente, me perguntei o quão atrasada eu estaria em saber que a minha geração já tem: um nome, um conjunto de características bem determinadas, um par de estudiosos (Neil Howe e William Strauss), um livro, uma embalagem, um número, uma cara e, portanto, um nome a zelar! Ei-la, segundo as palavras da autora do texto:

“É uma geração mais careta: ser nerd passou a ser legal;

É uma geração que tem foco na saúde e na vaidade: menos drogas, menos bebida, mais beleza e sexo responsável;

Usam marcas como uma forma de compor sua identidade; a customização dá a sensação de pertencer a um grupo e se destacar dentro dele;

É uma geração obcecada por tendências de moda e como há grande rapidez na informação, as coisas perdem e ganham relevância muito rapidamente;

Barreiras geográficas, diferenças etárias ou socioeconômicas perderam importância: a cultura e os interesses comuns os aproxima e os aglutina;

As “tribos” se formam por afinidade e identificação cultural, não importa que cada um esteja num canto do planeta;

Muitos Millennials vivem com seus pais: o conflito entre gerações é menor;

Compartilham suas vidas pessoais na internet e não têm preocupação com o que é privado;

Segundo pesquisas, 61% dos jovens americanos não expressa interesse pelo mundo adulto. (Não pude deixar de pensar -serão eles retardados?- sem preconceitos... apenas um pensamento...)
Portanto, as marcas voltadas para eles devem celebrar a juventude, pois é isso o que importa para eles.”

Como ainda não superei a sensação de ser um rato de laboratório, nas mãos de analistas de mercado, gostaria apenas de comentar a sonoridade do nome Millennials. Gostei. Porém, como customizo minhas roupas para ter um prestígio maior dentro da minha “tribo” e logo sou categorizada como uma Millennial criativa, gostaria de salientar que obviamente acrescentaria a essa terminologia os dois termos -Sapiens e Plus- por soar mais biológico.

Em outro texto, encontrei algo melhor ainda:

“O grupo de consultoria de Boston ainda fez o favor de subdividir toda a geração em 6 grupos menores, que se auto explicam:

Hip-ennials (29%) – “Eu posso, SIM, fazer do mundo um lugar melhor”.
Mãe Millennial (22%) – “Eu adoro malhar, viajar e cuidar do meu filhinho”.
Anti-Millennials (16%) – “Sou ocupado demais com meu trabalho e minha família para me preocupar com o resto do mundo”.
Gurus dos Gadgets (13%) – “É ótimo ser eu”. (Atentem para esses..... são gurus....)
Millennials Verdes (10%) – “Eu não cuido só de mim, mas da NATUREZA também.”
Old School Millennials (10%) – “Falar pelo Facebook é impessoal demais. Vamos ali na cafeteria conversar!”.

Bom... se você é um Millennial Sapiens Plus e não se encontrou ainda nas definições acima, eu lhe pergunto: em que mundo você vive? ...Ah... saquei. Você só pode ser da classe “Guru dos Gadgets”. Não sem devoção, (pois gurus de toda uma geração não poderiam ser ignorados) não me contenho, preciso perguntar: você possuí um sabre ou algo do tipo?



Textos base em: http://www.papodeempreendedor.com.br/oportunidades/quem-sao-e-o-que-querem-os-jovens-millennials-ou-geracao-y/

http://www.addialeto.net/blog/referencias/definindo-uma-geracao-de-consumidores-millennials/

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Então..

Encontrei uns vídeozitos para refletir...



http://videolog.tv/video.php?id=776573 ... (Vai no link que não consegui postar o vídeo em si... mas é a continuação. Vai que vale rsrsrs)

Via: Sendentário e Hiperativo

Comentários???

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Algumas explicações


Título original - O Dia que durou 21 anos
Documentário que revela minuciosamente a participação do governo dos Estados Unidos no golpe militar de 1964 que durou até 1985 e instaurou a ditadura no Brasil.
Pela primeira vez, documentos do arquivo norte-americano, classificados durante 46 anos como "Top Secret" são expostos ao público.
Textos de telegramas, áudio de conversas telefônicas, depoimentos contundentes e imagens inéditas fazem parte desse documentário, narrado pelo jornalista Flávio Tavares.
O Dia que durou 21 anos é uma coprodução da TV Brasil com a Pequi Filmes, com direção de Camilo Tavares. Roteiro e entrevistas de Flávio e Camilo Tavares. S/D. Descrição do You Tube. Claro que a própria TV Brasil não oferece a porra da data do doc.
 
Fantoche é uma forma particular de marioneta ou marionete animada por uma pessoa e que se distingue pela manipulação que resulta da introdução da mão numa espécie de luva, -vulgo ( )*( )- em que o dedo indicador vai suportar a cabeça do boneco, o polegar e o anelar suportam e movem os braços. Por isso também é designado por marioneta de luva, (...) ou Brasil, para os mais íntimos. Fonte: wikipedia.

Agora fiquei pensando no aviãozinho de comemoração do Jair Bolsonaro... cito a Folha.com do dia 31/03/2012:

"Mais cedo, um avião sobrevoou toda a orla da zona sul carioca com uma faixa escrita "parabéns Brasil, 31 do 3 de 64".
"Sou macho, mas estou arrepiado", disse o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ).
Foi ele quem pagou R$ 2.000 pela faixa e voo. Ele deve pagar mais R$ 1.200 para um segundo voo no domingo."
HUMMMMM....

sexta-feira, 30 de março de 2012

Silêncio Rasgado

Luciano Laner, Entreguei a você meus mais sinceros desejos, ambições e medos. 2011. Imagem retirada do blog da galeria Espaço IAB. (Clique para ampliar a imagem e, para continuar lendo o texto, clique no fim da postagem, em mais informações!)

Quando nos deparamos com uma grande experiência coletiva, vivida em infinitos níveis por cada indivíduo, nos perguntamos: como traduzi-la? Qual é o fator de indizibilidade de algo a ponto de concretizar-se como arte?

No momento em que arte e questões sociais se confundem de modo indissociável, não há como analisar um discurso artístico por um viés ou outro. A arte é uma forma de conhecimento humano que comunica e tem a liberdade de tomar para si todo e qualquer assunto, tanto material quanto imaterial, interno ou externo, coletivo ou individual, temporal ou atemporal. O artista, porém, é um produtor localizado, no sentido de que existe em determinado tempo e contexto. Não pretendo aqui, portanto, discutir valores artísticos/estéticos, mas sinalizar a importância de certas manifestações que, oriundas da vontade do artista, extravasam os conceitos da arte, vertendo para a sociedade interessantes reflexões sobre si mesma.  

Entreguei a você meus mais sinceros desejos, ambições e medos, se apresentou como uma grande anomalia dependurada no centro histórico da cidade de Porto Alegre. Anomalia que incita a uma discussão ainda obscurecida, sobre a seriedade, as causas e as conseqüências da ditadura militar no recente processo histórico brasileiro. Discussão ausente não só no Rio Grande do Sul mas no país, onde menos se fala sobre o assunto, tanto no que diz respeito à sociedade quanto no que se verifica nas mostras de arte locais. Uma rápida observação nas edições da Bienal do Mercosul, uma das mostras mais significativas do estado, já fornece uma pista dessa constatação. Basta atentar para o número de obras que tratam insistentemente das ditaduras militares de países vizinhos, versus a estranha ausência igualmente insistente da mesma temática em obras de arte mais recentes1, de autoria dos brasileiros, notadamente no que diz respeito aos recortes curatoriais das Bienais do Mercosul.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Geração fim do mundo


Não. Não tenho a incongruência de afirmar que somos os primeiros. Nem a falsa esperança de que seremos os últimos. Somos o meio da ponte. Sentados, abobados, indescritíveis. Somos a negação da negação do que já foi dito antes. Não sentimos mais vontade nem desejo. Não queremos mais ter filhos. Não queremos mais participar.

Não acreditamos no sistema financeiro.
Mas trabalhamos para ele.
Não acreditamos na indústria, nos produtos com prazo de validade.
Mas compramos.
Não queremos mais lixo.
Mas produzimos.
Não aceitamos mais políticos.
Mas votamos.

Não compartilhamos das noções de “amor” vigentes.
Mas amamos.
Não queremos boletas psiquiátricas.
(anestesia...) … … … … … … …

Reduzimos nossos danos particulares, vivemos na base do menos pior. Nosso grito de protesto? O menos pior. Um grande silêncio. Não queremos mais este mundo doentio. Mas vivemos.

A geração fim do mundo. Ansiosa pelo dilúvio, medita, todos os dias, por um meteoro qualquer. Sentada no meio da ponte, divide as migalhas de injustiça, compartilha os copos de culpa, pede força, mais e mais peso. Um dia a ponte cai. Ponte obtusa, de um lado o velho, aquele de onde viemos. Do outro, uma esperança invertida, um fim catastrófico.

Rá! Riremos muito enquanto choramos, por dentro, de alegria e desespero. 


domingo, 19 de fevereiro de 2012

Os cavaleiros do apocalipse e as lantejoulas da glória


Tudo dera errado no inicio daquele ano. Dizia de modo geral, pois sempre conseguira ver o lado bom dos piores acontecimentos. Uma sequência de presentes cruéis traziam-na ao local que se encontrava naquele instante. O chão da cozinha. Com o olhar embaçado, respirava com dificuldade, dividia o lugar com alguns gatos e a boca com chicletes de nicotina. Não entendia muito bem o que a levara àquele momento.

Lembrava-se, vagamente, de que no dia anterior, já sem suprimentos, precisou sair de casa. As ruas vazias cheiravam a pneu derretido. Do asfalto, uma densa fumaça transparente brotava do chão e acariciava suas canelas. Eram sensuais línguas de demônios, sem umidade nem perdão.

Nunca houvera deitado naquele lugar da casa. A cozinha, um grande retângulo branco, ameaçava desabar sobre sua cabeça. Os fornos eram maioria, e riam e regozijavam de prazer ao contemplarem sua degradação. O forno a gás, naquele caso para gases liquefeitos de petróleo, falava do passado da humanidade, um passado recente, de perfuração e sangue negro. O forno elétrico, gargalhava do presente, dos rios desviados, das horrendas fontes de energia nuclear, dos ares condicionados beirando o blecaute, inúteis, no calor de 40 e poucos graus. O micro-ondas falava do futuro, particularmente de suas hemácias agitadas até a explosão.

Pensou em entrar na geladeira, sua única aliada naquele momento. Seria simples. Retiraria todas as prateleiras, daria para ficar esticada, depois em posição fetal. Esperaria que alguém lhe encontrasse, provavelmente morta pela intoxicação dos alimentos estragados que teria que comer, não pelo frio, pois a pequena geladeira não daria conta de congelar algo do seu tamanho.

Naquele delírio febril, pensou em Jesus. Um Jesus transparente, montado em uma geleira alada, de glória inderretível. Um Jesus picolé cujo sangue que daria de beber, não era vinho, mas algo frozen, qualquer coisa. Resolveu cortar o pensamento. Não podia cometer tal blasfêmia mesmo em estado de desespero. Lembrou que na Europa as pessoas estavam morrendo de frio.

Na passarela, o carnaval rolava solto. Ninguém ouviria seus gritos de pavor. Ninguém perceberia que seu estado, agrário, atrasado, que alimentava uma parte do país, estava sob a mira de uma lente contra o sol. Como formigas, seus habitantes sumiam, pulverizados, um a um. No chão da cozinha, lantejoulas com tapa-sexo giravam sobre a sua cabeça, como fadas do apocalipse. Morreu de sede, de samba e purpurina.

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Gatas de apartamento, onças de rua


Cruzava com ela quase todos os dias. Uma de um lado da rua, a outra do outro. Degustava a sua beleza como se bebesse um trago da mais suja e cintilante injustiça. Ela loira, não muito alta. O ventre liso, sempre a mostra. Um jeito de vestir um pouco raro, cuidado, forte, feminino, dentro das possibilidades turvas da sua condição. De vez em quando, observava sua captura na esquina, como uma gata de rua que pula sorrateiramente, tremendo a ponta da cauda, luxuriosa, mas mantém as garras bem presas aos membros da vítima.

Neste dia, no mesmo lado da rua, veio em minha direção. Sempre nos olhávamos, em silêncio. Parou e resolveu romper o véu tênue que nos separava. Eu segurava minha cadela velha, sem dentes, sem olho, quase sem vida. Mas que seguia, firme, o quanto aguentava.

Começou a falar, um pouco agressiva, porém doce. Não pude ver seus olhos. Perguntou se eu segurava um ratão. Contou que quando era mais jovem, e ia na vila comprar loló, via ratos do tamanho de minha cachorrinha, e francamente, sem ofensas, muito parecidos também. Ficou fascinada. Sentia que ela me olhava, percebia minhas reações, e em pouco tempo verificou que eu era mansa, que comera filé-mignon em vez de ração, que era tratada. Miando, nos reconhecemos.

Vi seus dentes quebrados e a bela moldura que a reconfigurava. Quis chorar. Mas não podia. Faltaria com o respeito. Melhor falarmos de cães. Ela me fazia perguntas, confidências. Dizia que os cães eram como os humanos, tinham de tudo, menos AIDS. De repente, vi suas mãos próximas ao meu rosto, afastando meus cabelos da boca, com o cuidado do toque mais delicado que era capaz de produzir. Sorriu, e me pediu um pouco dos meus pelos, pois os seus já estavam ralos.

Como gatas nos afastamos, sem explicações nem culpas, apenas como espécie, sexo e afinidade. Quando ia embora se virou com alegria, exclamando:

- Vai viver mais uns cem anos! Minha mãe diz que estou ficando velha, mas olha! Tem muitas que não duram nem metade do que eu estou durando!

Senti orgulho e amargo na boca. Secretamente, nos desejamos sorte. Secretamente nos admiramos. Eu e a puta, no meio da rua.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O Brado Retumbante: WTF de caráter duvidoso


Retumba em meus ouvidos o Brado da Rede Globo de comunicações. Faziam uns três anos que havia resolvido, terminantemente, que não daria mais audiência para tal emissora. Pelo bem da minha paz, pois que não quero morrer e ir parar em um dos círculos do inferno de Dante, aquele do pecado contra a sociedade brasileira. Sabe-se, através de estatísticas além-túmulo que é o mais lotado e que se não tiver um bom lobista, morre-se de frio, porque as chamas da expiação estão sendo desviadas. Mas, há que se fazer exceções. Estava demorando demais, até que algo retumbasse na minha consciência.

Hoje, dia 20 de janeiro de 2012 após verificar uma semelhança que beira a clonagem, entre o personagem principal da série O Brado Retumbante e o possível candidato à presidência Aécio Neves pelo PSDB (2014), resolvi caminhar mais um passo rumo ao frio eterno, e vi o capítulo da minissérie em questão. Estou pasma.

Sou formada em Artes Visuais, licenciatura e crítica. Se há uma coisa que fiz à exaustão durante 7 anos da minha vida foi ler imagens. Não gostei nenhum pouco do que li. Em apenas um capítulo, foi citado o governo Lula -o caso do “eu não sabia”- com uma frivolidade espantosa; a questão dos quilombolas, ONGS e movimento sem-terra figuravam em um livro fictício com nome “A verdadeira história do povo brasileiro” ou algo do tipo, de maneira absolutamente grotesca e desrespeitosa (sem inocência, sabemos que nem tudo são flores aí, mas generalizações nesses assuntos são impraticáveis), escrito por uma “vice-presidenta sindical” encarnada por uma personagem vestida à caráter, com blêizer vermelho-vinho, um pouco desprovida de beleza física, radical e panfletária, corrupta e escritora de um absurdo material didático repleto de erros históricos/ideológicos. Contraste absoluto da personagem primeira-dama: bela, professora, comprometida, uma mulher para se espelhar.

Mas não pense que o presidente do Brasil está isento de críticas... Não. Jamais. O personagem encara um putanheiro, que trai a bela mulher, forte, instruída, sensível, compreensiva. Aquela que atua por trás do grande homem, onde é o lugar de toda a mulher não é mesmo?

Para arrematar o quadro da possível bazuca a raio-laser, armada pela emissora para possivelmente acabar com essa palhaçada de esquerda, cheeeia de defeitos, mas que conseguiu em tempo recorde dar um pouco de atenção para as classes que mais necessitam, o Jornal da Globo, reafirmou a notícia que passou o dia sendo alardeada, com comentários cheios de malemolência: o “escândalo” do debate dos presidenciáveis nos EUA, onde um dos candidatos foi recebido com uma pergunta sobre traição no casamento. Ora bolas, isto é um verdadeiro absurdo jornalístico, concordo, ainda mais num país onde uma chupada abala o congresso, mas, vamos combinar... veio muito a calhar não? Sem precipitações, não acredito que a pouca vergonha da emissora tenha se perdido completamente numa guerra com cara de minissérie, mas... pelo histórico, estou pagando pra ver.

Acabo o meu texto já sentindo o frio que me espera. Vamos ver se a sucessão dos fatos “reviravoltam-se”, ou se realmente a Rede Globo cansou de Cucarachas passando de classe.

(…) De menos F pra C tudo bem, mas classe média? Daqui a pouco eles estarão invadindo nossos jardins de inverno. Tirando férias em nossas praias. Estudando e entrando em nossas universidades. Os negros quilombolas entenderão de usucapião, e a constituição federal vai acabar caindo na boca do povo, ela e todas as suas cláusulas sobre concessões públicas de telecomunicações. (...) Ouçam o nosso Brado Retumbante! Plim Plim.

Obs: Desculpem os possíveis erros de português.
Obs 2: Ficarei feliz em retificar este texto caso o distorcido discurso que vi hoje, neste “entretenimento”, tome um rumo minimamente decente.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Artista oriental.


Vai me dizer que o título do post já não diz tudo o que você precisava saber sobre o vídeo em questão?

Me questiono se Deus é realmente brasileiro.

Catei nos links tretianos.