Lentamente, os dias
vazios ficavam maiores. Gigantes comedores do tempo, enormes seres
brancos como borrachas. Das linhas, dos desenhos que a memória
produz, aprende-se, em contemplação, que o tempo é colorista,
artista hábil que imagina, recria, embeleza. Mas os dias -esses
vilões interessantes- são potência e latência, invólucros vazios
que enchemos de trabalho. Enormes entidades brancas em vestes de
preguiça, gula, despropósito.
Focada na revolução
que jamais vivenciou de fato, desfoca, devaneia. Nunca havia
pensado a Liberdade, nunca seriamente. Agora, atrás dos Gigantes, no
campo colorido do tempo, se revolta a terra. Do atrito das placas
crânianas, emergem montanhas. As ações, as reações foram
defloradas. A tal Liberdade pulsa, permeia, cospe lava vulcânica
escondendo o horizonte: desafio cravado no plano, tão alto quanto de
difícil acesso.
Tremem os dias diante
das montanhas. O tempo chora e ri pois que se instaura um espetáculo.
Uma brisa leve acaricia o rosto e sussura: “escale, contemple... é
chegada a hora da degola, que rolem as cabeças”.