sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Plopt

O que me falta é massa, para conseguir dobrar o espaço-tempo do jeitinho que me apetece.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Também quero ser privatizada!

Cansei de ser uma cidadã estatal. Estar aberta à conversação pública, ter como ideal o bem comum. Já tenho poucos espaços onde posso circular livremente, a polícia que deveria me proteger, não está mais preocupada comigo, ninguém paga meu cabeleireiro e nem minha manicure. Quero ter acesso a um público mais qualificado, que tenha dinheiro para investir em mim. Não quero mais dividir as contas da cerveja, do restaurante, do cinema.

Quero entrar na onda do momento. Na crista dela, porque, francamente, ser estatal é coisa de pobre. Quero conviver com aqueles que tem bens (os afortunados por Deus), que esbanjam beleza e cuidado com seus corpos. Chega desses amigos que só tem tempo para estudar-trabalhar-estudar... Quero que uma multinacional fature em cima de mim. Certamente, ganharei 1% da minha utilização, e 1% é muito em se tratando de um grande negócio!

Funcionarei melhor: meus neurônios integrarão o sistema de qualidade total. Minhas idéias já sairão de mim patenteadas. Aqueles que quiserem me acessar terão que pagar pedágio. Chega dessa coisa de "preocupação com direitos", é muito politizado, muito esquerdista, muito démodé. Quero ostentar. Sentir não me interessa mais. Amor não paga contas. Sexo? Só mediante pagamento. E não me venha com "isso é imoral". Se o lucro que eu gerar fodendo for redirecionado para o mantenimento de meu corpo, que mal existe? Serei uma mulher privatizada, não uma "puta" pública, não confunda as coisas!

Chega de cultura. Muita formação, muita informação, muita arte. Isso só me estressa e não traz retorno financeiro. Quando privatizada for, só assistirei e compartilharei coisas do mainstream. Literatura fútil, filmes de ação e comédias românticas 3D, música pop e todo o resto que estiver na moda. Aliás, eu lançarei moda, porque terei dinheiro para pagar a minha própria publicidade pessoal!

Não quero mais ser brasileira. Pais de pobretões. Quero ser estadunidense ou de outra grande potência. Européia... não, né? Velho mundo. Quero ser cotiporânea!!! Ostentar uma grande marca internacional tatuada nas minhas partes íntimas! 

Não está convencido dos benefícios? Calma... nasci aqui, fruto da genética e da terra verde-azul-amarela. Não esquecerei de todo as minhas origens! Só serei "simbolicamente brazileira", com "z" porque é mais chique. Estarei pronta para receber estrangeiros, darei tudo que quiserem. Podem me explorar, me usar, me depredar. Me esgotem a vontade! Pagando bem? Que mal tem? Não há nada que uma plastiquinha não resolva! São só vantagens!!!

Eu e o Maracanã. Brazileiros "natos". Quem dirá não? 


Texto inspirado na futura privatização do Maracanã que fiquei sabendo hoje, via jornal da Record. 

domingo, 21 de outubro de 2012

Retrato

Quanta surpresa tive 
ao retratar aquela menina!

Um olho tem dor, o outro tem sina...

Tem fúria marcada na testa, sobrancelhas um pouco pidonas.

A boca não tende ao sorriso...

Covinhas? Talvez de esperança.
Um queixo bastante briguento.

Cabelos rebeldes por natureza e um nariz de criança presa!

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Porto Alegre: Universo Paralelo


 
Quem dera fosse assim,
na minha Porto-silêncio.

Mas está tudo errado
na minha Porto-tragédia.

O público virou privado
na minha Porto-vendida.

O povo foi cegado
na minha Porto-mentira.

Nossas meninas foram surradas
Na minha Porto-brigada.

Nossas urnas foram forradas
Na minha Porto-cegueira.

Agora me dói a garganta
Na minha Porto-ferida.

O povo virou o martelo
Na minha Porto-porrada.

(O prego está na cabeça de seu filho)
Na minha Porto-privada.

Me sinto órfã, abandonada.
Não sei se grito,
se choro,
ou se tomo uma Coca-Cola,
pra esquecer do sangue no chão
da minha Porto-perdida.


Fonte da imagem: picanaorelatada.com