segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Gatas de apartamento, onças de rua


Cruzava com ela quase todos os dias. Uma de um lado da rua, a outra do outro. Degustava a sua beleza como se bebesse um trago da mais suja e cintilante injustiça. Ela loira, não muito alta. O ventre liso, sempre a mostra. Um jeito de vestir um pouco raro, cuidado, forte, feminino, dentro das possibilidades turvas da sua condição. De vez em quando, observava sua captura na esquina, como uma gata de rua que pula sorrateiramente, tremendo a ponta da cauda, luxuriosa, mas mantém as garras bem presas aos membros da vítima.

Neste dia, no mesmo lado da rua, veio em minha direção. Sempre nos olhávamos, em silêncio. Parou e resolveu romper o véu tênue que nos separava. Eu segurava minha cadela velha, sem dentes, sem olho, quase sem vida. Mas que seguia, firme, o quanto aguentava.

Começou a falar, um pouco agressiva, porém doce. Não pude ver seus olhos. Perguntou se eu segurava um ratão. Contou que quando era mais jovem, e ia na vila comprar loló, via ratos do tamanho de minha cachorrinha, e francamente, sem ofensas, muito parecidos também. Ficou fascinada. Sentia que ela me olhava, percebia minhas reações, e em pouco tempo verificou que eu era mansa, que comera filé-mignon em vez de ração, que era tratada. Miando, nos reconhecemos.

Vi seus dentes quebrados e a bela moldura que a reconfigurava. Quis chorar. Mas não podia. Faltaria com o respeito. Melhor falarmos de cães. Ela me fazia perguntas, confidências. Dizia que os cães eram como os humanos, tinham de tudo, menos AIDS. De repente, vi suas mãos próximas ao meu rosto, afastando meus cabelos da boca, com o cuidado do toque mais delicado que era capaz de produzir. Sorriu, e me pediu um pouco dos meus pelos, pois os seus já estavam ralos.

Como gatas nos afastamos, sem explicações nem culpas, apenas como espécie, sexo e afinidade. Quando ia embora se virou com alegria, exclamando:

- Vai viver mais uns cem anos! Minha mãe diz que estou ficando velha, mas olha! Tem muitas que não duram nem metade do que eu estou durando!

Senti orgulho e amargo na boca. Secretamente, nos desejamos sorte. Secretamente nos admiramos. Eu e a puta, no meio da rua.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O Brado Retumbante: WTF de caráter duvidoso


Retumba em meus ouvidos o Brado da Rede Globo de comunicações. Faziam uns três anos que havia resolvido, terminantemente, que não daria mais audiência para tal emissora. Pelo bem da minha paz, pois que não quero morrer e ir parar em um dos círculos do inferno de Dante, aquele do pecado contra a sociedade brasileira. Sabe-se, através de estatísticas além-túmulo que é o mais lotado e que se não tiver um bom lobista, morre-se de frio, porque as chamas da expiação estão sendo desviadas. Mas, há que se fazer exceções. Estava demorando demais, até que algo retumbasse na minha consciência.

Hoje, dia 20 de janeiro de 2012 após verificar uma semelhança que beira a clonagem, entre o personagem principal da série O Brado Retumbante e o possível candidato à presidência Aécio Neves pelo PSDB (2014), resolvi caminhar mais um passo rumo ao frio eterno, e vi o capítulo da minissérie em questão. Estou pasma.

Sou formada em Artes Visuais, licenciatura e crítica. Se há uma coisa que fiz à exaustão durante 7 anos da minha vida foi ler imagens. Não gostei nenhum pouco do que li. Em apenas um capítulo, foi citado o governo Lula -o caso do “eu não sabia”- com uma frivolidade espantosa; a questão dos quilombolas, ONGS e movimento sem-terra figuravam em um livro fictício com nome “A verdadeira história do povo brasileiro” ou algo do tipo, de maneira absolutamente grotesca e desrespeitosa (sem inocência, sabemos que nem tudo são flores aí, mas generalizações nesses assuntos são impraticáveis), escrito por uma “vice-presidenta sindical” encarnada por uma personagem vestida à caráter, com blêizer vermelho-vinho, um pouco desprovida de beleza física, radical e panfletária, corrupta e escritora de um absurdo material didático repleto de erros históricos/ideológicos. Contraste absoluto da personagem primeira-dama: bela, professora, comprometida, uma mulher para se espelhar.

Mas não pense que o presidente do Brasil está isento de críticas... Não. Jamais. O personagem encara um putanheiro, que trai a bela mulher, forte, instruída, sensível, compreensiva. Aquela que atua por trás do grande homem, onde é o lugar de toda a mulher não é mesmo?

Para arrematar o quadro da possível bazuca a raio-laser, armada pela emissora para possivelmente acabar com essa palhaçada de esquerda, cheeeia de defeitos, mas que conseguiu em tempo recorde dar um pouco de atenção para as classes que mais necessitam, o Jornal da Globo, reafirmou a notícia que passou o dia sendo alardeada, com comentários cheios de malemolência: o “escândalo” do debate dos presidenciáveis nos EUA, onde um dos candidatos foi recebido com uma pergunta sobre traição no casamento. Ora bolas, isto é um verdadeiro absurdo jornalístico, concordo, ainda mais num país onde uma chupada abala o congresso, mas, vamos combinar... veio muito a calhar não? Sem precipitações, não acredito que a pouca vergonha da emissora tenha se perdido completamente numa guerra com cara de minissérie, mas... pelo histórico, estou pagando pra ver.

Acabo o meu texto já sentindo o frio que me espera. Vamos ver se a sucessão dos fatos “reviravoltam-se”, ou se realmente a Rede Globo cansou de Cucarachas passando de classe.

(…) De menos F pra C tudo bem, mas classe média? Daqui a pouco eles estarão invadindo nossos jardins de inverno. Tirando férias em nossas praias. Estudando e entrando em nossas universidades. Os negros quilombolas entenderão de usucapião, e a constituição federal vai acabar caindo na boca do povo, ela e todas as suas cláusulas sobre concessões públicas de telecomunicações. (...) Ouçam o nosso Brado Retumbante! Plim Plim.

Obs: Desculpem os possíveis erros de português.
Obs 2: Ficarei feliz em retificar este texto caso o distorcido discurso que vi hoje, neste “entretenimento”, tome um rumo minimamente decente.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Artista oriental.


Vai me dizer que o título do post já não diz tudo o que você precisava saber sobre o vídeo em questão?

Me questiono se Deus é realmente brasileiro.

Catei nos links tretianos.