sexta-feira, 29 de julho de 2011

For Amy

Admito que desde o dia em que a Amy morreu, não consegui pensar em outra coisa. Usei um batom vermelho em sua homenagem, chorei em sua homenagem, cantei em sua homenagem, sonhei que herdei seus vestidos (?).

Não sou de modo algum uma Amy-maníaca, acho até que sua música ainda não estava completamente madura, mas desde a sua morte, não parei de pensar porque ela e outros que conheci pela vida afora, resolveram ir embora tão cedo.

Tudo que posso dizer sobre a Amy, é que nunca fui apresentada a senhora "vinho da casa". O inegável título dos sensíveis, no entanto, é que era uma pessoa no mínimo intensa. Intensidade é para poucos, intensidade pesa num mundo de amenidades. "O mundo é para todos". Mas sabemos que não é.

Intensidade é prender fogo por dentro. Cada vez que algo acontece, todos os tipos de coisas. Algo bom é paraíso. Algo ruim é inferno. A intensidade não permite meio tom. A intensidade não aprecia meio-termo. O bom é raro, o ruim é perene.

Imagine um cubo com pouco oxigênio, um frio intenso, uma caixa de fósforos, lenha úmida e você. Isso é ruim. Agora imagine o mesmo cubo, só que aberto. O mesmo frio, os mesmos fósforos, mas a lenha robusta e seca. Isso é bom. O fogo existe em todos, o cubo é o pequeno espaço onde a intensidade se realiza. Os intensos controlados possuem uma escada dentro do cubo, um acesso para outros espaços. Os intensamente intensos usaram a escada como lenha em algum momento.

Forjada por uma pequena parcela da humanidade, esta construção de mundo que conhecemos, ameniza o homem através de condicionamento, conforto e sensação de compatibilidade. Para os intensos, pilulas de moral, de ordem, entretenimento, regras, regimentos, condutas puníveis. Em ultimo caso, sanatório. Para os amenos, tudo isso é prático e natural.

Mas para os intensos, uma paixão é lenha seca, fogueira a céu aberto. Amor é lareira no inverno. Assim como uma criança morrendo de desnutrição aqui ou na África (um exemplo entre tantos), é madeira encharcada, corroída, falta de ar. Um pássaro preso em uma gaiola, vai morrer sendo punido por aquilo que nunca fez, apesar de ter asas. Só que existem poucas paixões numa vida, mas milhões de crianças e pássaros morrendo todos os dias, por pura falta de intensidade alheia.

Um intenso pensa que sua caixa de fósforos e um pouco de lenha, infelizmente, não são suficientes para prender fogo dentro de todas as pessoas. Em todas aquelas que concretaram seus cubos. Naquelas que venderam seus cubos. Naquelas que esqueceram seus cubos. Após chegarem a esta conclusão, os intensamente intensos prendem fogo em si mesmos. Uns sobrevivem, outros não.

Entrar em contato com um intenso é meter-se em uma fogueira. É claustrofobia quente ou febre eufórica. É ver que o mundo tornou-se um imenso frigorífero. Seus cubos são transparentes.

Cada vez que um intenso morre, um sol se apaga num universo ao lado. Cada vez que um intenso sobrevive, alguns ao seu redor aprendem, na marra, a emitir calor.

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