Eram
discretos. Nas carteiras de identidade não constavam nascimentos
posteriores a 15 de julho de 1996, ano simbólico para o clube, única
proibição pragmática entre os membros. As paredes da pequena
catacumba onde se reuniam eram cobertas de toalhas negras e todas
eram lavadas após o ritual, exterminando possíveis vestígios de
odor. No centro da sala a pedra fundamental de estranho formato
jazia, solene, com seu jovem negro sorridente e um dente lhe faltava
na boca, segundo especulações do clube, local de inserção da
planta sagrada, afim de melhor fixá-la entre os lábios.
A
pedra era quadrada e fina, de um vermelho vibrante e ao lado da
cabeça do garoto lia-se a palavra Pan. Na base, três estruturas em
formato de “cano” continham os três principais mandamentos: para
ser jovem e livre. Para ser másculo e viril. Para ser requintado e
glamouroso. Outros cartazes proibidos encontravam-se espalhados em
torno da pedra fundamental. Um certo Camelo no Egito, o nome do polo
cinematográfico dos EUA, e cada novo membro não contemplado possuía
o direito de ali prestar sua homenagem.
Uma
pequena geladeira no canto, com divisórias largas, continha
champanhe, cervejas finas, licores e outras bebidas nobres, para
harmonizar. Vinhos, Bourbons e Whisky numa estante especial. Cafés
de várias procedências. Acima da geladeira um modelo (pintado a
mão) de uma McLaren delicadamente pousada sobre uma bandeira do
Brasil e um vaso com lírios brancos, sempre viçosos.
As
reuniões eram ilegais. De tempos em tempos algum membro desenvolvia
sinais de enfraquecimento, rouquidão, dificuldade respiratória. O
clube então juntava o valor necessário para o pagamento do
tratamento e prestava as devidas homenagens de preparação para a
feliz exclusão permanente daquela pessoa do clube. Mas a maldição
das 7 tentativas era implacável. Não raro o valor acumulado acabava
pagando seu sepultamento ou cremação.
Eram
considerados párias sociais. Gente indigna de respeito. Assassinos
sádicos e lentos cuja presença soava letal. Seus dentes amarelados
apavoravam as crianças e despertavam asco nos adultos.
Nas
reuniões, pilhas e pilhas de processos com negativas judiciais,
afirmando que o Estado, a indústria, a publicidade não afetam o
livre arbítrio e nada supera a invencível força de vontade humana.
Os tímidos se tornavam eloquentes. Os abstêmios, sempre indignados,
se apoiavam em suas muletas. Os dependentes de químicos pesados
arranhavam a mobília. Os traumatizados balançavam os corpos nos
cantos das paredes. Os ricos, acompanhavam as variações da bolsa de
valores. Os pobres relaxavam após as extenuantes jornadas de
trabalho. Os escritores criavam contos. Os pintores retratavam as
reuniões. As putas, com as pernas abertas em função das dores,
(mas já habituadas as elas) gargalhavam em grupo. Os rebeldes ouviam
rock and roll e discutiam a sociedade. Os ressabiados usavam máscaras
venezianas. Os cirurgiões firmavam os pulsos. Os eventuais elogiavam
a duração de suas carteiras. Os pensadores engendravam suas
teorias. Os jogadores exercitavam o carteado e o xadrez. Os músicos
compunham melodias. Os estressados sentavam nas cadeiras de balanço.
Os advogados, montavam suas defesas. Os que receberam a substância
desde o útero criavam estratégias de diminuição. Os debilitados
mudavam a cor do filtro.
Ao
menor ruído de uma sirene, as luzes eram imediatamente cortadas e
sentia-se um silêncio sepulcral. Como vaga-lumes suicidas, as
pequenas luzinhas se apagavam, todas, de uma só vez.
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